Curso de Informática Avançada

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Fichamento do livro Pesquisa em História

KHOURY, Yara Maria Aun; PEIXOTO, Maria do Rosário da cunha; VIEIRA, Maria do Pilar de Araújo. A pesquisa em história. 3. ed. São Paulo: Ática, 1995. 80 p. (Princípios, 159).

Resumo

O livro constitui-se de um referencial teórico e metodológico indispensável na pesquisa histórica por aliar o debate teórico e prático da pesquisa, destacando a necessidade de uma concepção de história que valorize a experiência vivida associada a uma visão de história como experiência de luta e de luta política, em contraposição a uma filosofia da história que supervaloriza os conceitos.

Citações

“Cultura passa a ser apreendida como todo um modo de vida e todo um modo de luta, não podendo ser pensada como reflexo ou eco de uma base material”. (p.7).
“Pensando a história como essa experiência vivida integral e socialmente, o conceito de política se amplia sendo definido como todo espaço da luta. nesse sentido o campo da política ultrapassa o âmbito estritamente institucional, os limites da presença e da ação do Estado, para se colocar na multiplicidade de formas de poder contidas nas estratégias de controle e de subordinação no social”. (p.8)
“O poder e a dominação não se localizam apenas no aparelho de Estado ou no nível do econômico, mas existe todo um processo de disciplinarização necessária da população, que permeia toda a atividade social, desde o trabalho, escola, família, até as formas aparentemente mais ingênuas de lazer.” (p.8)
“A complexidade do real abre para o pesquisador um campo muito vasto de possibilidades de investigação. Isso porque entendemos que os papeis sociais são improvisados e ultrapassam uma suposta racionalidade que muitas vezes o investigador atribui ao processo histórico”. (p. 8)
“[...] queremos assim dizer que o processo de investigação não cabe em esquemas prévios, e as categorias que servem de apoio ao trabalho serão construídas no caminho da investigação.” (p. 8)
“Priorizar categorias fixas, abstratas, instituídas, pura¬mente analíticas, em detrimento do processo real significa per¬der de vista os processos constitutivos desse real”. (p. 9)
“Todo conceito é histórico, constituído, em determina¬do momento do processo histórico, por homens reais, con¬cretos, com interesses, valores também reais, concretos”. (p. 9)
“O que propomos não é um estudo paralelo do social, do cultural, do econômico, do político, mas sim um estudo que leve em conta todas essas aparentes dimensões, sem qual¬quer compartimentação ou subordinação”. (p. 10)
“Reordenar todo o conjunto de conceitos implica uma noção de totalidade em que prevaleça o movimento contraditório se fazendo, desfazendo, refazendo, recuperar a totalidade é fazer com que o objeto apareça no emaranhado de suas mediações e contradições; é recuperar como este objeto foi constituído, tentando reconstituir sua razão de ser ou aparecer a nós segundo seu movimento de constituição, do qual fazem parte o pesquisador e sua experiência social, em vez de determiná-lo em classificações e compartimentos fragmentados”. (p. 11)
Não só ao poeta, mas também a historiadores incumbe recuperar lágrimas e risos, desilusões e esperanças, fracassos e vitórias, fruto de como os sujeitos viveram e pensaram sua própria existência, forjando saídas na sobrevivência, gozan¬do as alegrias da solidariedade ou sucumbindo ao peso de for¬ças adversas. (p. 13)
Essa experiência se manifesta sob as mais variadas for¬mas, como valores, como imagens, como sentimentos, co¬mo arte, como crença, como trabalho, como tradição. Essas manifestações tornam-se objeto do historiador através de vestígios e registros que aparecem também sob as mais variadas formas como escritos, objetos, palavras, música, literatura, pintura, arquitetura, fotografia. (p. 13)
“O termo registro se refere a uma variedade muito grande de manifestações do ser humano que evidencia a ampliação do foco de atenção do historiador interessado em recuperar a trajetória dos homens vivendo as várias dimensões do social.” (p. 13)
“Os positivistas, ao se apropriarem da palavra (documento), conservam-lhe o sentido de prova, não mais jurídica, mas cientifica.” (p.13)
“Em decorrência, só consideravam relevantes para a historia aquilo que estava documentado e daí a importância dos fatos da política institucional: atos do governo, atuação de grandes personalidades, questões de política internacional etc.” (p. 14)
“A única habilidade do historiador consistiria em tirar dos documentos tudo o que eles continham e em não lhes acres¬centar nada do que eles não continham”. (p. 14)
“Nessa linha de raciocínio, outros tipos de registro, tais como cerâmicas, moedas, fragmentos de tecidos, utensílios, armas, instrumentos musicais, detritos humanos, paisagem, só eram valorizados para se fazer uma história setorizada, como história da arte, do vestuário, dos costumes, da músi¬ca etc., ou na impossibilidade de se trabalhar com documen¬tos escritos oficiais”. (p. 14)
“Essa postura positivista teve e tem vários críticos, alguns contemporâneos, outros não”. (p. 15)
“A "Escola dos Annales", por exemplo, ampliou a no¬ção de documento a partir de uma outra concepção de histó¬ria. Para esses historiadores o acontecer histórico se faz a partir das ações dos homens”. (p. 15)
“Daí o conhecimento histórico se produzir "com tudo o que, pertencendo ao homem, de¬pende do homem, serve o homem, exprime o homem, de¬monstra a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem". (p. 15)
“O documento já não fala por si mesmo mas necessita de perguntas adequadas. a intencionalidade já passa a se alvo de preocupação por parte do historiador, num duplo sentido: a intenção do agente histórico presente no documento e a intenção do pesquisador ao se acercar desse documento.” (p. 15)
“Nessa prática, progressivamente, o ponto de partida da investigação passa do documento para o problema.” (p.15)
“Associada a essa perspectiva, a objetividade do conhecimento histórico é garantida pelo método. Nesse caso a intencionalidade do pesquisador entra na definição do tema, na seleção dos documentos, mas principalmente na escolha do método, responsável pela cientificidade do seu trabalho. Por outro lado, a intencionalidade dos sujeitos históricos fica relegada a segundo plano e nesse caso o documento é usado como ilustração da vontade e competência do pesquisador.” (p. 16)
“[...] pensar a produção do conhecimento histórico não como aquele que tem implicações apenas com o saber erudito, com a escolha de um método, com o desenvolvimento de técnicas, mas como aquele que é capaz de aprender e incorporar essa experiência vivida, é fazer retornar homens e mulheres não como sujeitos passivos e individualizados, mas como pessoas que vivem situações e relações sociais determinadas, com necessidades e interesses e com antagonismos.” (p. 18)
“Ao historiador cabe dar, ao objetos eleito para estudo, uma explicação global dos fatos humanos, acima de qualquer compartimentação, centrando o eixo dessa explicação nos mecanismos que asseguram a exploração e as dominação de uns homens sobre outros, e que se traduzem nas relações econômicas, políticas, sociais, culturais, nas tradições, nos sistemas de valores, nas idéias e formas institucionais.” (p.18)
“O que se propõe, conforme nos lembra Déa Fenelon, não é um estudo paralelo do social, do cultural, do econômi¬co, do político, mas sim um estudo que leve em conta todas essas dimensões, sem compartimentação nem subordinação ao econômico. É desse modo que entendemos história social. Neste sentido, interessam ao investigador as lutas reais; não só aquelas que se expressam sob formas organizadas (sindi¬catos, partidos, associações várias) como também as "for¬mas surdas" de resistência, estratégias ocultas de subordina¬ção e controle. Isto significa incorporar grandes áreas da ex¬periência humana sem as quais a compreensão do social se torna precária. "Interessa recuperar caminhadas, programas fracassados, derrotas e utopias, pois nada nos garante que o que ganhou foi sempre melhor”. (18-19)
“No intuito de dar conta de tudo isso, o historiador se vê na contingência de diversificar a gama de materiais utilizados na investigação, incorporando novas linguagens: literatura, relatos, cinemas, teatro, música, pintura, fotos, etc.” (p.19)
“Pensar separadamente história/linguagem levaria a situar separadamente história, linguagem, ideologia, poder, trabalho etc.” (p. 20)
“Da mesma forma, a musica, a pintura, a charge, a TV, a foto, o cinema estão carregados de propostas, questionamentos, tensões, acomodações: os agentes, através das linguagens que lhe são próprias, criticam, endossam, propõem, enfim se rebelam ou se submetem.” (p. 21)
“O fato de querer trazer para o trabalho do historiador toda a diversidade de manifestações das relações humanas traz duas ordens de dificuldades:
A primeira delas é a própria tradição historiográfica que dificulta a incorporação dessas outras linguagem ao trabalho do historiador, como expressão de relações sociais.” p. 21
“Outra está em o historiador sentir-se despreparado para lidar com elas. o despreparo é o próprio desconhecimento do objeto, enquanto caminho a ser percorrido, e não a falta de conhecimento de técnicas universais capazes de dar conta da dimensão própria de cada linguagem, enquanto elementos e conceitos abstratos.” p. 22

“O pesquisador tem que estar atento ao modo como a linguagem foi produzida tentando responder por que as coisas estão representadas de uma determinada maneira, antes de se perguntar o que está representado. Isto porque a eficácia de um filme não está propriamente nas informações que passa, mas principalmente nas operações efetuadas por sua linguagem.” (p. 23)
“Entendendo que o historiador é capaz de pensar a teo¬ria, de elaborar conceitos na explicação histórica, e que os registros participam (de) e contêm essa explicação, torna-se impossível aceitar conceitos abstratos, acabados, elaborados fora desse diálogo entre pesquisador e registros”. (p. 26)
“Entretanto, se realizar seu trabalho pensando a his¬tória como um campo de possibilidades, em que os diferen¬tes sujeitos sociais têm diferentes formas de pensar o real e, portanto, formas diferentes de intervir no real, deverá se pro¬por a recuperar as várias propostas em jogo e as razões da vitória de uma delas sobre as outras, o que significa trazer à tona também as causas perdidas. Para nós isto é recuperar a relação, o movimento, a contradição”. (p. 26-7)
“Dependendo da força que um agente social teve no pas¬sado, sua fala será capaz ou não de ser perpetuada. Uma vez que até agora tem prevalecido o dominante, sua fala se per¬petua com muito maior facilidade”. (p. 27)
“Os agentes sociais, ao viverem sua experiência, pensam¬-na de diferentes formas, estabelecem relações etc. Essa expe¬riência tem uma configuração própria que não se modifica diante da experiência presente do pesquisador”. (p. 27)
“No diálogo, os resultados obtidos pelo pesquisador levam-no a fazer novas perguntas e/ou buscar novas evidên¬cias. Ou seja, a problematização do objeto se configura no transcorrer da pesquisa”. (p. 28)
“A história deve ser pensada no duplo sentido do termo: como experiência humana e como sua própria narração, in¬terpretação e projeção”. (p. 29)
“Enquanto o historiador realiza sua pesquisa e constrói seu objeto de estudo, os passos de seu trabalho não são separa¬dos uns dos outros nem se encadeiam numa ordem sucessiva. Pelo contrário, o encaminhamento da reflexão a partir da po¬sição teórica do pesquisador de sua localização na prática so¬cial, de suas expectativas e do diálogo que faz com as fontes, é um movimento único, em que o avanço em algumas partes auxilia em melhores definições em outras, e vice-versa”. (p. 29)
“Nunca é demais repetir que a definição e o tratamento do objeto de estudo têm muito a ver com a postura de histó¬ria do pesquisador. Definir o tema é pensar o objeto e não apenas escolher o assunto. Nesse sentido a definição não é um ato só inicial: ela se articula com a problematização, forman¬do com esta momentos e expressão de um único movimento”. (p. 30)
“A pro¬blemática deve surgir de uma relação íntima entre o sujeito que pesquisa e o objeto pesquisado e, através dele, com os sujeitos sociais que experimentaram a questão da terra, seja, por exemplo, pela reivindicação da reforma agrária, ou por sua recusa. Nesse caso, os diferentes registros - legislação, escrituras, cordel - deixados pelos agentes sociais - pro¬prietários, posseiros, movimentos organizados etc. - parti-ciparão da formulação da problemática. É preciso pensar es¬ses registros não como o real, mas como parte do real, pro¬duzidos segundo determinados interesses e valores. Por aí o pesquisador estará tentando perceber qual a problemática que estava em jogo, não impondo uma problematização a partir de critérios externos, percebendo a intersecção de vários tem¬pos simultâneos na construção desse objeto ao qual estão li-gados tanto os sujeitos do presente - inclusive o pesquisa¬dor - quanto os do passado.” (p. 34)
“O fato de problematizar, a partir da historiografia, já reflete uma posição teórica que não questiona o modo de se constituir pela memória e pela historiografia do populismo como elemento definidor e explicativo desse momento”. (p. 36)
“Ao realizar a pesquisa empírica e a discussão metodoló¬gica, que o colocava em contato com autores cuja postura teórica questionava os pressupostos dos quais partira, redi¬mensionou seu objeto de trabalho, tendo percebido a com¬plexidade do social e a dificuldade de explicá-lo pela causa¬ção linear, única”. (p. 36)
“Outras experiências mostram como o caminho da pes¬quisa conduz a uma redefinição do tema, no sentido mesmo da sua alteração”. (p. 36)
“Essa mudança de tema e reorientação de problemática auxiliavam inclusive um melhor entendimento da prática do PC que, na pesquisa, passava para um segundo plano. Essa mudança exemplifica bem que escolher e definir o tema se relacionam profundamente com sua problematização”. (p. 37)
“Pensar a história como experiência humana - que é de classe e de luta, portanto vivida a partir de necessidades, in¬teresses e com antagonismos - é situá-la como um campo de possibilidades em que várias propostas estão em jogo”. (p. 37)
“A problematização é contínua, acompanhando o traba¬lho todo: é o movimento constante que vai do empírico à teo¬ria e vice-versa, demandando a elaboração ou reelaboração de noções, conceitos, categorias de análise, porque tais ele¬mentos, por mais abstratos que sejam, surgem de engajamen¬tos empíricos e do diálogo com as evidências”. (p. 38)
“No diálogo, os dados obtidos pelo pesquisador levam-¬no a reelaborar os conceitos, as noções, as categorias de análise”. (p. 38)
“Esse procedimento busca uma interação entre o sujeito que pesquisa e o objeto pesquisado; entre teoria e prática; entre o pensar e o agir”. (p. 39)
“Quando se propõem a investigar um objeto, algumas pes¬soas sentem a necessidade de alguns pontos de apoio que in¬diquem, com uma certa margem de segurança, os caminhos a seguir. Isso ocorre devido a uma herança cientificista que pensa o método como o elemento fundamental para garantir a objetividade do trabalho do historiador”. (p. 39)
“Esta forma de conceber a pesquisa histórica supõe uma submissão do pesquisador, tanto aos procedimentos do mé¬todo como aos recursos da técnica, pois a ênfase recai nos procedimentos do pesquisador em detrimento de sua relação com o objeto”. (p. 40)
“Problematizar nesse caso é dar voz aos sujeitos históri¬cos. Nesse procedimento o pesquisador interroga os agentes sociais a partir de suas preocupações e de sua postura e se deixa interrogar por esses agentes. (p. 43)

“[...]desvendar as injunções de uma problemáti¬ca vencida no passado, mas ainda presente hoje, é chamar a si a possibilidade de intervir no presente e no futuro”. (p. 43)
“O que se busca no passado é algo que pode até ter-se perdido nesse passado, mas que se coloca no presente como questão não resolvida”. (p. 43)
“Vendo a história como um campo de possibilidades, visualizam-se, em cada momento, diferentes propostas em jogo e se uma delas venceu, venceu não porque tinha de vencer, mas por uma série de injunções que é preciso des¬vendar”. (p. 43)
“Quando falamos que a história-conhecimento é constru¬ção queremos dizer que é uma representação do real e, como tal, parte do real e não o real em si mesmo. Nessa busca de compreensão do real, tanto está presente a reflexão do pes¬quisador quanto o próprio objeto”. (p. 44)
“Numa postura diferente desta, na medida em que se acha que o procedimento do historiador é que garante a objetivi¬dade, há uma excessiva preocupação com a técnica. Esta passa a ser vista como tendo um sentido em si mesma. O como ¬fazer ganha uma autonomia muito grande, ficando separa¬do dos outros procedimentos”. (p. 44)
“O interesse do pesquisador por certos assuntos e o mo¬do de abordá-los dependerá de sua visão da sociedade e de sua proposta de intervenção nela. A partir de suas preocupa¬ções no presente escolherá os registros e os tratará de uma dada forma”. (p. 45)
“Nesse sentido não dá para fazer a seleção de fontes depois da problematização, como geralmente recomendam os manuais. O pesquisador, no encaminhamento da pesqui¬sa, se depara com registros que funcionam como elemen¬to perturbador, ou porque não consegue explicá-los, ou por¬que questionam linhas importantes de sua reflexão”. (p. 46)
“Repensando o objeto de estudo em função das evidên¬cias trazidas à luz pelos dados empíricos e de uma proposta metodológica, qual seja de que as relações sociais de produ¬ção não são apenas relações econômicas, mas sociais, políti¬cas, culturais etc., os pesquisadores concluíram que haviam separado aquilo que nunca estivera separado. Em outras pa¬lavras, pensar o trabalhador como agente social e não apenas como força de trabalho, remete à "complexidade do todo so¬cial e às lutas que nele se verificam, imprimindo-lhes a dinâ¬mica". (p. 47)
“O fato de o pesquisador privilegiar um determinado as¬pecto de um objeto de estudo não significa fragmentá-lo, mas entendê-lo globalmente”. (p. 48)
“Numa outra postura que faz uso de modelos explicativos na construção histórica, a problematização se dá principalmen¬te a partir da teoria e as evidências passam a ter uma função meramente ilustrativa”. (p. 48)
“A subjetividade do pesquisador está presente na seleção dos dados mas essa escolha não é arbitrária; ela resulta da re¬lação entre a postura teórica do pesquisador e o objeto pes¬quisado”. (p. 49)

“O trabalho final do historiador também deve aparecer como um momento de reflexão e não como produto acabado; deve reconstituir o próprio percurso da investigação.” (p. 50)
“Nesse caso apresenta um conhecimento sobre o objeto e não o conhecimento.” (p. 50)
O trabalho do historiador expressa uma reflexão sobre diferentes práticas sociais em tempos diferenciados e, ao mes¬mo tempo, sobre a prática acadêmica. (p. 50)
“Numa proposta de incorporar o social ao trabalho do historiador e entendendo que esse processo de incorporação é uma via de mão dupla, ou seja, tem um retorno para o social, o produto final desse trabalho deve ser apresentar sob forma pulsante, viva, acessível a um público não especializado.” (p. 50)
“O saber histórico se repõe como teoria e, como tal, no¬vamente será questionado pelas evidências”. (p. 52)
“Todo esse modo de pensar o real histórico e o conheci¬mento histórico recusa a noção de objetividade universal. A objetividade está em recuperar o movimento, a contradição do acontecer histórico, entendido como processo vivido por homens reais numa relação de dominação e subordinação em todas as dimensões do social”. (p. 52)
“Se enfatiza a teoria, operando com conceitos e catego¬rias abstratos, preestabelecidos, a garantia da objetividade estará na "boa escolha da teoria", no "rigor científico" . Aca-ba por considerar as evidências como simples ilustração de um conhecimento produzido fora da investigação”. (p. 52-3)
“Situamos a produção do conhecimento histórico como histórico, isto é, produzido a partir de um lugar social, não podendo, portanto, ser universalizado”. (p. 65)
“Embora o passado enquanto tal não se modifique, a construção do conhecimento se modifica de acordo com o modo pelo qual o historiador se vê no presente, pensa o so-cial e se insere nele, enquanto sujeito social e enquanto pes¬quisador”. (p. 65)
“O conhecimento histórico é sempre uma construção do real e não o real”. (p. 65)
“A pesquisa está ao alcance de qualquer pessoa que se disponha a recuperar no passado o processo de constituição do espaço de tensões e conflitos que é o presente e no qual busca se situar”. (p. 68)
“A recuperação que faz do passado não tem condições de ser totalmente objetiva porque a subjetividade do pesqui¬sador está presente. Nesse sentido, o conhecimento do pas¬sado é uma representação mas não arbitrária, porque construída a partir de evidências. A compreensão desse passado pode questionar, modificar a compreensão do presente, que, por sua vez, pode também modificar a compreensão do passado”. (p. 69)
“Com este trabalho tivemos a intenção de contribuir para o debate sobre o oficio do historiador, não oferecendo solução ou receitas, mas apenas falando da nossa reflexão no momento presente, por entendermos a historia como permanente fazer-se a investigação histórica como uma busca aberta a múltiplas possibilidades.” (p. 71)


Comentários

Por tratar-se de um livro nascido da experiência prática e teórica das autoras na lida docente, o livro é extremamente didático, constituindo-se numa ferramenta indispensável para aqueles que ensinam sobre a metodologia dos estudos em história como para os pesquisadores das humanidades.
As autoras do livro expressam uma concepção de história que valoriza a experiência vivida, a história concreta, a vida concreta, uma visão de história como experiência de luta e de luta política, em contraposição a uma filosofia da história que supervaloriza os conceitos.
Apesar de terem uma postura marxista ao acreditarem que a história é o resultado da luta de classes, não são sectárias das correntes do marxismo histórico que trabalham com um determinismo da economia sobre todas as demais manifestações da atividade humana. Não chegam a tirar todos os méritos do Positivismo, haja vista a preocupação com o resgate e autenticidade das fontes e com a preocupação de se determinar bases para as pesquisas: a metodologia. No entanto, criticam o tecnicismo e a abordagem que eles faziam dos documentos, assim como a limitação dos mesmos.
Com a “Escola dos Annalles” e suas ramificações posteriores foi aberto todo um leque de opções quanto aos tipos de documentos e linguagens que poderiam ser usados como fontes históricas, no entanto a postura tecnicista perante a pesquisa, segundo as autoras, persistiria e precisaria ser revista.
Podemos concordar ou discordar das autoras quanto a alguns de seus posicionamentos, mas o livro tem seus méritos principalmente na discussão sobre a necessidade de se flexibilizar os métodos e projetos de pesquisa e que as técnicas não precisam ser rígidas e imutáveis, mas podem e devem resultar das necessidades da própria pesquisa e do objeto a ser pesquisado.